O SRPC-Serviço Regional de Proteção Civil está muito próximo da implementação de um serviço de excelência na fase pré-hospitalar. José Dias anuncia em entrevista ao JM que “todo o processo pré- hospitalar e estado clínico do doente será feito online, entre ambulâncias e hospital”.

Ao nosso jornal, o presidente do SRPC aborda outras questões como a introdução da figura do Oficial de Ligação, o helicóptero de combate aos fogos, o programa regional de Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE), ou o funcionamento do SIRESP na Madeira.

José Dias explica ainda como se desvia da politização do SRPC.

JM - Em termos operacionais e de meios, tem o Serviço Regional de Proteção Civil (SRPC) a resposta adequada e que a população precisa?

José Dias - Posso tranquilizar a população: o Serviço Regional de Proteção Civil (SRPC) e respetivos corpos de bombeiros estão cada vez mais apetrechados de meios e de operacionais.

Ainda agora recebemos mais nove veículos de combate a incêndios florestais, o que nos dá uma maior capacidade de ataque inicial aos incêndios. Por outro lado, existem diferenças estruturais relativamente ao ano anterior. Esta capacidade permite-nos ter maior vigilância das populações e maior valência no ataque inicial, bem como maior dissuasão devido aos patrulhamentos que as equipas de bombeiros fazem no terreno.

JM - Quais são essas diferenças estruturais?

JD - São o aumento das equipas de combate a incêndios florestais na Ribeira Brava, que abrange os concelhos da Ribeira Brava e Ponta do Sol; em São Vicente, com a colocação de uma equipa na Santa; na Calheta, por ter a maior área florestal. Depois, temos mais uma equipa em Câmara de Lobos, que cobre o Curral das Freiras, e uma outra dos Bombeiros Voluntários Madeirenses que não é mais do que uma equipa de reserva estratégica e que serve para toda a Região.

Outra das grandes diferenças é a colocação do Oficial de Ligação no CIC CROS (Centro Integrado de Comunicações - Comando Regional de Operações de Socorro), elemento que coordena todo o dispositivo disponível. Não comanda, apenas coordena de forma global.

Outra das inovações são os estados de alerta e prontidão do dispositivo, o que nos permite fazer a colocação e intervenção de todos os meios e recursos em determinadas áreas em que achamos mais debilitadas ou de maior risco. Evidentemente, temos também a existência, pela primeira vez, do meio aéreo na Região Autónoma da Madeira. Contudo, gostava de dizer que o meio aéreo por si só não resolve as situações, mas é um complemento de todas as capacidades operacionais já existentes e instaladas em corporações de bombeiros da Região.

JM – A introdução de um Oficial de Ligação é para responsabilizar mais os bombeiros, dando-lhes maior poder de decisão no teatro das operações?

JD - Não tem só essa perspetiva. Os Oficiais de Ligação são oriundos de todos os comandos do corpo de bombeiros da RAM. Devido à complexidade de meios e recursos introduzidos e, neste caso específico de um meio aéreo, teria de ser alguém de uma estrutura de comando a fazer o seu acionamento, já que esse trabalho não pode ser efetuado por um operacional de uma estrutura intermédia. Depois, a legislação é clara quando diz que o comando no teatro de operações é realizada localmente.

JM – Notou algum melindre na implementação do Oficial de Ligação?

JD - Não, até porque é um processo claro e limpo. Fizemos uma reunião e explicamos os porquês dos objetivos e da motivação do Oficial de Ligação. A envolvência de todos foi quase imediata.

 JM – Anteriormente, já discordou da existência de um único comando de bombeiros em vez dos vários espalhados pela ilha. Continua a pensar assim?

JD - Sim, continuo. A existência de corpos de bombeiros dentro dos vários municípios é uma mais-valia até pela própria proximidade que existe junto da população. Os agentes de proteção civil locais têm de ter uma abertura que lhes dê fatores preponderantes para o seu próprio desenvolvimento. Tem de ser olhados como fator determinante para o desenvolvimento do próprio município.

JM – Este ano foram registados dois incêndios de alguma envergadura. Principalmente no incêndio do Vale Paraíso. Porquê a opção pela pronta ação 'musculada' de meios e de operacionais?

JD - Principalmente pela zona de risco em que estava o incêndio, era importante e necessário fazer uma compensação por não se poder usar o meio aéreo. Depois, pela grande área florestal que lá existe, havia a necessidade de ser um combate inicial bastante musculado, de forma a colocar as chamas numa zona restrita.

JM – Parece haver um relacionamento diferenciado entre o SRPC e os bombeiros municipais, comparativamente aos corpos de bombeiros voluntários… JD – O que posso dizer de forma peremptória e sem margens de dúvidas é que não existe qualquer tipo de diferenciação entre bombeiros municipais, sapadores e voluntários. Estão todos no mesmo patamar da capacidade operacional e de contributo.

JM – Haveria alguma vantagem em ter meios concentrados num local estratégico e prontos a intervir a partir dali em qualquer parte?

JD – Aceito opiniões divergentes, mas não vejo qualquer vantagem. Na minha perspetiva, não concordo. Já existe uma entidade que regula do ponto de vista operacional e coordena todo o sistema e todos os meios: trata-se do Serviço Regional de Proteção Civil, que regula do ponto de vista operacional, que faz a centralização das chamadas, que executa o despacho de meios, que faz formação de todos os elementos de forma padronizada.

JM – Como descreve os riscos que temos nesta ilha, tendo em conta as experiências que já teve noutros locais, como os Açores?

JD - Aqui, na Madeira, o risco de incêndio florestal é o que mais impacto tem, até pelas situações recentes. Os outros riscos são as aluviões e enxurradas, também situações infelizmente já vividas na Madeira.

JM - Nos Açores, que conhece bem, praticamente não há incêndios…

 JD - É por causa do grau da humidade. Os fatores de risco de grandes incêndios florestais baseiam-se na regra dos 'três 30': temperaturas acima dos 30 graus, humidade inferior a 30% e vento superior a 30 kms/h. Os Açores nunca têm temperaturas superiores a 30 graus e raramente têm humidade abaixo dos 30%.

JM – Passando para a área pré- hospitalar, que se interliga com o SRPC, elogia-se a formação teórica e prática dada aos bombeiros do SEMER (Serviço de Emergência Médica). Caminhamos para um serviço de excelência nesta área?

JD – Acho que já temos um serviço de excelência no pré-hospitalar, o que é demonstrado até em termos nacionais. Ainda dentro do meu mandato, temos tido muitos operacionais do SEMER como convidados a participar em congressos pré-hospitalares. É evidente que queremos evoluir mais e melhor.

JM –O Funchal tem apenas cinco ambulâncias disponíveis para o serviço pré-hospitalar. São suficientes?

JD - A exemplo do que acontece nos bombeiros relativamente às atuações nas áreas florestais, todos têm de estar envolvidos, também, na área pré-hospitalar. Em caso da falta de recurso no determinado local, os outros têm de estar preparados para atuar em qualquer cenário e em qualquer local da RAM. Cada vez mais, isto tem de ser visto numa perspetiva 'de teia', em que todos contribuímos para o mesmo.

JM – Como estamos em relação ao Programa Regional de Desfibrilhação Automática Externa e da sua formação?

JD – Números redondos, penso que estamos a falar de 2.400 operacionais. Somos a região do País que tem mais operacionais de desfibrilhadores automáticos externos (DAE), se tivermos em conta o número da população versus número de operacionais com DAE. Garantidamente, somos a região do País que se encontra mais e melhor preparada a este nível.

JM – Não devia existir mais formação sobre o Sistema Integrado de Emergência (SIEM) e, principalmente de 'como ligar o 112'?

JD – Já estamos a fazer isso através das ações de sensibilização nas escolas, exatamente por conhecer todo o processo de princípio até ao fim. Como conhecemos todo o processo do Sistema Integrado de Emergência Médica, o SRPC e a Secretaria Regional da Educação assinaram um protocolo exatamente com esse objetivo. Existem dois programas sobre essas ações e temos, inclusivamente, destacado no SRPC um professor para servir como elo de ligação com a comunidade escolar. Cada vez mais acredito que se conseguirmos sensibilizar os jovens iremos ter adultos com a cultura de proteção civil. Ou seja, fazemos sensibilização sobre o SIEM nas escolas, além de formar os adultos na área do Suporte Básico de Vida (SBV) com desfibrilhação automática externa (DAE).

JM – O secretário regional da Saúde disse que a EMIR terá maior atuação no Porto Santo. O que nos pode adiantar sobre isso?

JD – O que estava a ser planeado e executado é que a EMIR está mais duas semanas no Porto Panto, além do verão. Há outras situações que vão ser analisadas e executadas dentro de tempo e que visam, essencialmente, proporcionar a segurança e proteção da população da ilha e de quem se desloca para o Porto Santo em férias.

JM – Quando é que vai ser possível disponibilizar informação sobre as vítimas que estão a ser socorridas diretamente às equipas nas ambulâncias?

JD – Estamos muito perto disso e é uma mais-valia para as equipas de socorro na perspetiva de terem a melhor informação no menor espaço de tempo. Quer dizer que os médicos no hospital vão ser informados do que está a ser feito no local do acidente ou incidente, bem como os operacionais no terreno vão ter acesso ao histórico médico do utente. Todo o processo pré-hospitalar e estado clínico do doente no hospital será feito online, entre ambulâncias e hospital. Já estamos a trabalhar nisto há muito tempo e será uma realidade no serviço pré-hospitalar.

JM – Está satisfeito com os meios tecnológicos no SRPC?

JD - A visão deste conselho diretivo é tornar o SRPC eficiente, eficaz, moderno e participativo, e em que todos contribuam para o mesmo. Na perspetiva dos recursos informáticos devem ser alocados o máximo de recursos, de forma a facilitar cada vez mais o trabalho dos próprios profissionais. JM - A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) divulga online toda a atividade operacional? Porque é que o SRPC não faz o mesmo?

JD – Permita-me discordar, já que a nossa aplicação informática disponibiliza várias informações para a população e para quem quiser ser informado. Em grandes eventos tem sido, também, emanada um conjunto de informação na própria aplicação.

JM - As previsões meteorológicas são uma ajuda. Quando não se confirmam, nota que esse serviço é descredibilizado? D – Há várias decisões e disponibilização de recursos de todo o dispositivo regional que é feito conforme as informações e alertas prestados ao SRPC pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). É um parceiro estratégico do SRPC e o garante científico das previsões. A montagem do radar do Porto Santo garante informações mais fidedignas. Muitas vezes, pode não estar mau tempo em Câmara de Lobos, mas pode estar muito mau tempo no mar de Câmara de Lobos. Isto é sempre muito subjetivo. Queremos dar sempre a melhor informação, a mais fidedigna e num curto espaço de tempo, para as instituições analisarem, antecipar e, finalmente, divulgá-las à população.

JM - Depois dos grandes incêndios de Pedrogão Grande, os portugueses ficaram a conhecer uma nova sigla: SIRESP. Na Madeira, o SIRESP funciona bem?

JD – Fruto de situações do passado, já foram feitas algumas remodelações na rede de emergência. Fruto dos incêndios do ano passado e da polémica do próprio SIRESP, a Madeira foi a primeira região do País a utilizar a última versão do sistema SIRESP. Cada vez mais, o SRPC tem melhorado as condições de receção e de emissão das comunicações. Aquilo que posso dizer, neste momento, é que estamos seguros com o sistema SIRESP que temos. É evidente que queremos continuar a melhorá-lo e adaptá-lo à Madeira. Estamos sempre à procura da excelência nas comunicações.

JM – No início, alguns críticos insinuaram que não conhecia a Região. Já conhece a Madeira?

JD – Já conhecia a Madeira, pois pertencia à Esquadra 751 da Força Aérea destacada na Madeira. Fiz muitos destacamentos na Região e já conhecia a Madeira, embora não com a particularidade que agora conheço. Em termos de balanço, tenho de ser humilde e reconhecer que é positivo. Mas, há muito a fazer e quero fazer muito mais. Não posso ser hipócrita, pois já se fez algo de positivo.

JM - Como faz a gestão de um serviço que não é político, mas que depende de políticos?

JD – Se fizermos um exercício de retrospetiva iremos verificar que o SRPC não tem sido envolvido e nem se envolve em questões políticas. Até porque é uma instituição imparcial e isenta, onde a sua maior preocupação é a missão de servir os madeirenses e porto-santenses, independentemente da cor política que esteja no poder.

Agostinho Silva

Paulo Graça

In "JM-Madeira"