O estado nutricional de iodo nas grávidas portuguesas está claramente abaixo do desejado.

 

Nos últimos anos, a problemática do suplementação de iodo na gravidez tem vindo a merecer maior protagonismo não só para comunidade científica, como para o público em geral.

 

Após a divulgação de um importante estudo nacional que demonstrou um aporte de iodo claramente insuficiente nas mulheres grávidas portuguesas, muito se tem debatido acerca da pertinência desta questão e da importância de resolver aquele que pode ser considerado um problema de saúde pública. Este artigo pretende sistematizar os pontos considerados chave da problemática da suplementação de iodo.

 

O que é o iodo e qual a sua importância?

 

O iodo é um oligoelemento essencial na nutrição humana. Sendo o principal substrato na produção da hormona tiroideia, o iodo é essencial para a sua formação. Na grávida é essencial, sobretudo, para garantir um adequado desenvolvimento neurológico do bebé. Uma vez que não pode ser produzido e sintetizado no nosso corpo, tem que ser consumido através da alimentação e ingerido regularmente.

 

Portugal é insuficiente em iodo?

 

Em Portugal, 83% das mulheres gravidas têm défice de iodo moderado (Iodo Urinário <150 µg/L) e 23,7% têm défice grave (Iodo Urinário <50 µg/L). Estes dados foram o resultado de um estudo nacional, levado a cabo pelo professor Limbert e pela Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), que avaliou 3631 grávidas em 17 maternidades do país. Estes resultados estiveram na base da publicação, em 2013, de uma Norma de Orientação Clínica pela Direcção-Geral da Saúde, que sugere a suplementação de iodo na gravidez.

 

Existem também importantes estudos recentes em crianças em idade escolar. O primeiro, realizado pela SPEDM e publicado em 2012, que envolveu 3680 crianças de 78 escolas a nível nacional, demonstrou que 47,1% dos alunos apresentavam níveis de iodo urinário abaixo dos recomendados. Um segundo estudo mais recente, realizado por um grupo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (encabeçado pela professora Conceição Calhau), denominado IOgeneration, cujos resultados foram divulgados no ano passado, que avaliou 2018 crianças de três regiões do Norte de Portugal, e em que se verificou que 32% dos participantes tinham valores insuficientes de iodo urinário.

 

Benefícios da suplementação de iodo na mulher grávida

 

A suplementação das grávidas com iodo pretende garantir que a mulher grávida tenha as reservas de iodo necessárias para o feto, desde a preconceção até ao aleitamento. Uma vez que o desenvolvimento neuro-cognitivo do bebé começa logo nas primeiras semanas de gestação, é de extrema importância que a suplementação se inicie logo na fase da preconceção. Esta suplementação deve manter-se até ao fim da amamentação exclusiva, uma vez que os leites artificiais já têm na sua composição quantidades adequadas de iodo para a criança.

 

Da perspetiva socioeconómica, foi publicado há dois anos o primeiro estudo que avaliou a relação custo-eficácia da suplementação de iodo na gravidez. Foi feita uma quantificação monetária, atribuindo um custo presumível por cada ponto de atraso em termos de Quociente de Inteligência (QI) nas crianças e comprovou-se o custo-benefício da suplementação.

 

Conclusões

 

O estado nutricional de iodo nas grávidas portuguesas está claramente abaixo do desejado e é insuficiente para cobrir as necessidades adicionais impostas pela gravidez. É altamente recomendado o estabelecimento de reservas normais de iodo antes da concepção.

 

A SPEDM, em parceria com a DGS, recomenda a suplementação com iodo durante a preconceção, gravidez e enquanto durar a amamentação exclusiva com 150-200 μg/dia.

 

In “Jornal da Madeira