Época gripal alargada, além do frio que se fez sentir no início deste ano e que atingiu sobretudo a população mais idosa são as causas do aumento da mortalidade, explicou a Direcção-Geral da Saúde.

 

Nos primeiros cinco meses deste ano, houve mais quase três mil óbitos em Portugal do que no mesmo período do ano passado, revelou a Direcção-Geral da Saúde (DGS), que adiantou os dados do Sistema de Vigilância da Mortalidade, o qual funciona em tempo real. Foram 52.443 óbitos no total, entre Janeiro e o final de Maio passado, especifica a DGS.

 

Explicações para este aumento? “A conjugação de uma época gripal alargada, com a circulação de outros vírus que causam infecções respiratórias e complicações associadas, bem como o frio que se fez sentir no início deste ano, com maior reflexo junto da população mais  idosa”, justifica o organismo liderado por Graça Freitas num comunicado divulgado esta segunda-feira.

 

Sublinhando que "cerca de 61%" dos óbitos verificados neste período ocorreram no grupo etário com 80 ou mais anos, a DGS destaca que a mortalidade prematura (a que ocorre antes dos 70 anos de idade) atingiu nos últimos anos o valor mais reduzido, ficando “abaixo das metas definidas pela Organização Mundial de Saúde”.

 

Ainda em Janeiro passado, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, explicando ao PÚBLICO os motivos que justificavam o acréscimo do número de óbitos por todas as causas, apesar da intensidade moderada da epidemia de gripe neste último Inverno, notava que o frio "obriga o nosso corpo a um esforço suplementar para manter a temperatura". "E há dezenas de vírus a circular no Inverno que abrem a porta a infecções bacterianas. Os vírus não nos matam mas fragilizam-nos e basta ver que são pessoas com mais idade e muitas patologias que estão a morrer", explicava então a médica.

 

Ao Correio da Manhã, que contabilizou o excesso de mortalidade verificado este ano, Graça Freitas também recordou que o envelhecimento da população pesa nesta evolução, mas frisou que no final do ano os valores ficam habitualmente equilibrados.

 

Vai ser, de facto, necessário esperar pelo fim do ano para se perceber se esta tendência se confirma. O indicador que tem mais preocupado os especialistas, porém, é o chamado saldo natural negativo, que corresponde à diferença entre óbitos e nascimentos e que, em 2017, foi o mais elevado deste século (23. 432), segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística.

 

Em 2009, primeiro ano em que o total de óbitos suplantou o de nados-vivos, o saldo natural negativo ficou-se por cerca de cinco mil. Esta tendência de declínio populacional está a agravar-se de ano para ano, como comentou então ao PÚBLICO a presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Maria Filomena Mendes. “Temos menos nascimentos e, mesmo que haja oscilações [como aconteceu em 2015 e 2016, quando a natalidade aumentou um pouco], nunca conseguiremos recuperar os números de há alguns anos”, sintetizou.

 

Ao mesmo tempo, acrescentou, “andamos a empurrar a morte para cada vez mais tarde, mas a população em risco de morrer em idades mais avançadas é cada vez maior e este facto — o de termos uma população muito envelhecida — faz com que haja mais mortes”.

 

In “Público”